20.9.09

quanto baste (3 de 5)

3.os aglomerados de corações equiláteros.


Vês em alcance curto pérolas de alfaiates,
esfinges de múltiplas civilizações, ovações de gáudio,
imperadores, tiranos e ditadores de alpendres,
vês as figuras que te dão peso aos calcanhares
e em todas essas vem uma impressão de mulher.
Vês num compasso a genialidade do género
que pela calada das noites os caminhos tem clareado.
Vês e questionas-te, quando virá o estio de uma vela ancorada?
para quando sussurrarás inoportunas confidências
e fecharás os olhos aos defeitos esguios de uma mulher-caravela?

Na iniciação de horizontes conjugados em pretéritos anacrónicos
basta um sorriso encalhado no peito, aluviões e vertigens,
para um homem mau rezar mais alto e descobrir salvações,
para um homem bom estudar novas contemplações e odisseias.
Vês – ou imaginas? - um mundo calejado de penélopes tricotando
na espera de um argonauta criador de novelos de saudade.
Do seu regaço interpela-nos o mito, renovadas convenções e estímulos,
circum-navegamos a realidade, tomamos o fantástico como referência,
e ninguém lhe sabe o fim, ninguém pode escamotear o anseio
de uma mulher-perene, mulher-enxuta, mulher-razia, mulher-mulher.

Vês arrepios de percentagens, ausências de acontecimentos certos,
reacções químicas em cálices de fogo, miudezas de corpos floridos.
Vês em ti uma consequência de brutalidades, ravinas suaves do inferno,
e carregas nos ombros, fêmea adornada, uma orquestra sinfónica de gaivotas.
- um dia pedir-te-ei em namoro nos jardins do Palácio de Cristal –
E não obstante o timbre ameaçador dos corvos zelosos,
os olhares indiscretos dos linces, o silêncio cúmplice que nos aparta,
saberei aguardar, aguardar que os nossos corações equiláteros
possam coabitar em uníssono, à medida que a ínclita senhora
me perfure o peito até este transbordar de humanidade pelos poros.

Sem comentários: