31.8.09

quanto baste (1 de 5)


1.os lugares oblíquos.



Entre os centímetros do mapa
quilómetros imensos quilómetros de estrada:
paisagens de linho, paisagens de arbustos,
a combustão dos automóveis perpétuos,
o estiramento e o suor dos tendões pedestres.
Neste atlas há um somatório de esquinas e de dedos
que traz no cabeçalho aquele esgar de jumento
ou um amplexo de humildade em cúpulas.
Entre os bicos dos corvos e o ronrom dos gatos
vem, amigo, sorver a ubiquidade dos lugares.

Nos andaimes de Viseu estás sentado,
na varanda de uma qualquer toca rural,
seguras nas mãos o mapa dos anseios
e nas palmas pintadas a científica localização
dos amigos que no mapa legendados vêm:
percorres num assombro Coimbra e Porto, Penafiel irás correr,
do campo de Valongo esticado até Amarante,
da madeira de São João à madeira que à ilha deu o nome,
passeias na Maia, segues para a Póvoa e por fim Vila Real,
e fechas as palmas das mãos como o vidente tapa a bola de cristal.

Parado numa estirpe de promontório
aparecem amplos rastos, finas pegadas erodidas,
bandeiras pregadas, escotilhas abertas,
os sortilégios de bafio intercalados com lírios
e os quilómetros imensos quilómetros de comoção.
Virás pagar promessas enlaçadas e outras tantas malfadadas,
construir novos rastos, imprimir novas pegadas,
e com sorte na cabeleira dos cometas irás mudar as ampulhetas
até conseguires sobrepor novos estratos ao passado,
guardando em segredo a idealização de um espaço oblíquo.

1 comentário:

Graça Pires disse...

"Entre os centímetros do mapa
quilómetros imensos quilómetros de estrada" somos levados numa viagem onde não faltam os sentimentos e a emoção.
Gostei do poema. Um abraço.