dos textos ridículos,
que também são necessários
Não fales alto que o coração não ouve. Faz-me antes as perguntas a que não ouso responder, aquelas bem presas debaixo da língua, quase quase a sair, mas a boca fecha-se vulnerável pois os trejeitos, aquelas covinhas meigas a meio da face, a denunciarem-te. Somos gente estranha a quem o asfalto da estrada provocou mazelas profundas, são dores e dores durando a dor dos dias. Ficámos estáticos na corda do tempo, a crueza de saber que as estradas são as nossas vidas, timbrada em sons agudos, sons que nunca encontram obstáculo onde fazer eco. Se tento encaixar os meus lábios nos teus, o molde é diferente e eles não se juntam. Do mesmo modo, beijar-te em ricochete, quando menos esperas, apanhar-te de olhos vazios no branco da parede, pregar-te os lábios num estalido, mas nem assim. Os teus lábios não correspondem, continuam brilhantes e carnudos, no entanto, nada. O problema não é de fabrico, os meus olhos não mentem ou deturpam. Engataste-me em ti como carro em movimento perpétuo. O que fazer aos amores que vieram para ficar e que nos alugaram o coração definitivamente? Não é da minha personalidade fazer promessas, porém, transfiguraste-me, quem morava aqui já não mora, cresceu, emancipou-se. Prometo querer-te.
Triste de quem procura ser feliz, prolongar a vida com a maior das vendas nos olhos: a ilusão. Sei bem do que falo, tanto no oito como no oitenta, ciclos constantes de insatisfação, ora ladrão justiceiro de espada erguida, ora pedinte de rua sem pão na boca. O culpado sei-o eu. Os teus lábios. A utópica morfina das dores e dores que duram a dor dos dias. O que fazer quando rescindir não é opção válida? Sacudir a poeira dos sonhos? Preferiria antes ser assolado pela tragédia. Que me cubra, me tape os pés frios porque na ambição de chegar mais alto destapei-os, desleixei-me. Lá se vai o alicerce da esperança. Eclipsei-me, deixei-me vencer pelas dores e dores que duram a dor dos dias. Repara bem em tudo o que escrevi e sepultei atrás, tudo porque uma coisa cá dentro, uma espécie de relógio de pêndulo parado, não sabe estar calada. E repara bem agora. A resposta já a conheço, mas questionar não custa nem ofende. Beijas-me?
fs
Não fales alto que o coração não ouve. Faz-me antes as perguntas a que não ouso responder, aquelas bem presas debaixo da língua, quase quase a sair, mas a boca fecha-se vulnerável pois os trejeitos, aquelas covinhas meigas a meio da face, a denunciarem-te. Somos gente estranha a quem o asfalto da estrada provocou mazelas profundas, são dores e dores durando a dor dos dias. Ficámos estáticos na corda do tempo, a crueza de saber que as estradas são as nossas vidas, timbrada em sons agudos, sons que nunca encontram obstáculo onde fazer eco. Se tento encaixar os meus lábios nos teus, o molde é diferente e eles não se juntam. Do mesmo modo, beijar-te em ricochete, quando menos esperas, apanhar-te de olhos vazios no branco da parede, pregar-te os lábios num estalido, mas nem assim. Os teus lábios não correspondem, continuam brilhantes e carnudos, no entanto, nada. O problema não é de fabrico, os meus olhos não mentem ou deturpam. Engataste-me em ti como carro em movimento perpétuo. O que fazer aos amores que vieram para ficar e que nos alugaram o coração definitivamente? Não é da minha personalidade fazer promessas, porém, transfiguraste-me, quem morava aqui já não mora, cresceu, emancipou-se. Prometo querer-te.
Triste de quem procura ser feliz, prolongar a vida com a maior das vendas nos olhos: a ilusão. Sei bem do que falo, tanto no oito como no oitenta, ciclos constantes de insatisfação, ora ladrão justiceiro de espada erguida, ora pedinte de rua sem pão na boca. O culpado sei-o eu. Os teus lábios. A utópica morfina das dores e dores que duram a dor dos dias. O que fazer quando rescindir não é opção válida? Sacudir a poeira dos sonhos? Preferiria antes ser assolado pela tragédia. Que me cubra, me tape os pés frios porque na ambição de chegar mais alto destapei-os, desleixei-me. Lá se vai o alicerce da esperança. Eclipsei-me, deixei-me vencer pelas dores e dores que duram a dor dos dias. Repara bem em tudo o que escrevi e sepultei atrás, tudo porque uma coisa cá dentro, uma espécie de relógio de pêndulo parado, não sabe estar calada. E repara bem agora. A resposta já a conheço, mas questionar não custa nem ofende. Beijas-me?
fs
5 comentários:
eu beijava :) com amizade...
Pois não custa nem ofende:
onde aprendeste a escrever tão bem?
Um abraço amigo.
Um final excelente.
Forte abraço.
Gostei mesmo deste texto. "O que fazer aos amores que vieram para ficar e que nos alugaram o coração definitivamente?... Questionar não custa nem ofende..."
Um abraço.
não existe nada de ridiculo aqui.
antes o texto que surpreende e prende.
. o meu melhor abraço.
sempre-!
.piano.
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