2.12.07

O mundo todo no escuro


- Fala baixo ou ainda nos ouvem!
Realmente devia fazer isso, isto é nosso, fomos nós que o construímos, que demos o primordial sopro de vida, somos criador e criação. Pudesse eu ver através da bruma, este negrume que me inundou as vistas, e vê-la-ia aqui ao meu lado, com uns olhos zangados, extremamente zelosa, fêmea protectora da sua cria, mãe divina de uma obra perfeita.
- Tens razão, o melhor é falar mais baixo
E nisto, nesta escuridão ofuscante, começamos a sentir, a ver, a cheirar. No fundo é este o propósito desta nossa máquina de viver. Há quem estupidamente insulte esta intenção de sentir tudo e de todas as maneiras, gozam dizendo que estar dentro de um armário, enfiados no meio do escuro, é tudo menos uma máquina de viver. Que sabem eles? Nada. Perdoa-lhes porque não sabem o que dizem, nunca assimilaram este rodopio de sensações, costuma resmungar ela.
Qual é o mal, pergunto-vos a vocês, guerreiros da ociosidade, qual é o mal? Por que não pode o mundo estar aqui, abandonado no interior destas paredes de madeira à espera que o venham sentir? Por que não pode ser aqui o centro de massa desse bravo mundo, que vocês, pior do que terem abandonado, não ligam e se importam? Abram os olhos!
Porque o mundo é um armário por abrir.


O Senhor Indignado,
F.S.

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