6.6.10

Uma infância vista de cima (9 de 20)

o avô não sabe mas
vêm escritos nos dias que já foram
o meu nome e o seu em escarlate,
nos rosários e terços tantas contas
dos momentos que faltam pintá-lo.

à mesa faço as vezes de bobo da corte
aguardando mistérios e malabarismos,
enquanto houver velhos para apregoar
o disseminar da tradição da família
algumas vozes em fundos jazigos
não vão deixar de ladrar.

tal e qual as concertinas e bebedeiras
do bisavô de perna coxa
que não serviram para manchar
a genealogia dos pés-descalços.

por isso lhe digo, avô,
que em todos os lugares me perco
e à sua figura inevitavelmente me vergo
exumando as traquinices que outrora sepultei,
erigindo-lhe e admirando os pelourinhos,
eles hão-de percorrer os trilhos da nossa aldeia

{dizia o senhor da paróquia
que podemos esperar
dos avós os teimosos vocábulos
de nós as habituais manias}

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