22.1.10

Leões

Guarda o vento o rugido
dos leões encardidos na praça.
Olham-nos de peito encolhido
as pessoas sem nenhuma graça.

A água que brota num silvo
o néctar das simples aves
que sem saberem são motivo altivo
do mundo novo como torpedo sem grades.

Que estes leões soturnos
são da vida bons alunos,
de espírito e de outra argamassa.

E todos os dias nesta praça
cada vez mais perto da Elsinore do poeta
cada vez mais longe do caminho indicado pela seta.

Assim vamos sendo,
vamos ficando,
vamos andando.
Entre os doces,
no meio das urtigas,
pelo pé que já foi nosso.


12.1.10

duplo IV


tenho japoneiras no jardim
quanto muito serei sensível
soda cáustica no quintal
aos vaticínios dos melros
um vasto ulmeiral
ao lavrar dos terrenos
onde vi crescer a vertigem
ao espalhar dos pesticidas
de uma ópera de piriquitos no estendal
nos pousios dos enfermos

de tanto certo do pouco ao muito