30.4.10

Uma infância vista de cima (4 de 20)

{tatuei as minhas mãos nas paredes}

no segundo piso perdido numa cadeira
abri o corpo ao ar profundo.
deixei-o estar em mim num doce instante
(da mesma maneira que se saboreia
o açúcar dos dedos)
e não senti o meu corpo colapsar.

o ar no resto da cidade
inunda o cérebro de sujidade
nem tristeza nem felicidade
em tudo fracasso, letargia, capacidade.

dói-me a máscara mentirosa
em que escondo azedos rebuçados
fora, todos os sorrisos e todos os pleonasmos
nesta falsa peça onde sou um actor fracassado.

{cansado fiquei a olhar para a parede
não me lembro da primeira cor das mãos}

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