30.6.10

Uma infância vista de cima (13 de 20)

{o meu pai é o zé-ninguém
a minha mãe é a penumbra
o povo é assim
sempre gostou de nevoeiro}

ninguém sabe o que me fez
tirar do corpo todos os âmagos
entregá-los sem nenhum jeito
sem saber se era a minha vez.

o país, tal como a aldeia,
é uma longa espera.

ninguém sabe o que me fez
depositar nas concavidades das órbitas
os meus projectos excedentários
julgando conhecer todos os meandros.

o país julga-se maior que a aldeia
são ambos tão pequenos .

não sei mais do meu corpo
do que a luz na fechadura da porta
mas se há coisa boa na aldeia
é sermos no dia nómadas.

ninguém sabe o que me fez.
nem tu, irmã,
nem eu.

{não temos hora para partir
não temos hora para voltar}


Sem comentários: