10.11.09

Biblioteca Municipal II

A outra consideração desta visão conjunta.

Quando pela primeira vez te vi, através das lentes iluminadas dos meus óculos, vasculhando a estante de literatura russa, logo ali conclui que não ficaríamos dissociados. Assim que senti a tua mão pesada raspando as capas dos romances e os olhos fantasiados embrulhados numa página sem fim, ficou evidente que os nossos espíritos, a vontade que nos cobre os corpos, haviam descoberto a sua sepultura, o bálsamo dos dias, o descanso voraz da pasmaceira inquieta do quotidiano. E nunca duvidei, nestas coisas não vale a pena reflectir em porquês, nada há a divagar: naquela estante consumou-se a fusão dos seres de vista curta. Se houve determinismo ou livre-arbítrio nos protagonistas desta simbiose é irrelevante. Pergunte-se a Baltasar porque ama Blimunda: porque sim, dirá ele. Pergunte-se a Blimunda porque ama Baltasar, ele que até perdeu uma das mãos por terras de Espanha: porque sim, dirá ela.
Faz-me, então, a tua pergunta.


fs

2 comentários:

Ana Gabriela A. S. Fernandes disse...

Fábio

Só hoje descobri estes dois posts "Biblioteca Municipal" e "Biblioteca Municipal II", que muito me impressionaram.
Gostava muito de os replicar um dia destes n'as_coisas_essenciais. Posso?
Cumprimentos
Ana

fábio videira santos disse...

Ana,

Esteja à vontade. Eu é que agradeço. Serão novas considerações, outros olhos para o texto.


Cumprimentos,

Fábio