15.6.09

Texto indefinido #5


Das peripécias do tempo

Das coisas que mais me arrepiam, o tempo é certamente uma delas. Tivemos sempre uma relação tempestuosa, altos e baixos, aliás, possuo uma relação conturbada com quase tudo o que me rodeia (resultado do meu puro relativismo que de tão relativo dispersa-me, sou muitos fechado num). Umas vezes rogando que acelerasse, outras que abrandasse. Nunca obedece ao que lhe peço, é óbvio. Intriga-me a razão por que o senhor tempo acelera na presença de felicidade e abranda nos sentimentos depressivos. Qual o motivo para estas contracções e distensões temporais? De uma perspectiva biológica, a minha predilecta e mais válida, constato que a nossa mente (edificada na razão) é a causa. Ela é sensível ao tempo, tal como um casal de enamorados seduzindo-se mutuamente, sem, contudo, se unir de facto. Isto leva-me a crer que a razão, na busca de auto-conhecimento e auto-preservação, abranda as situações extenuantes uma vez que elas é que nos dão maturidade e um conhecimento generalizado das situações, ao invés das situações de regozijo que raras vezes cimentam, de forma efectiva, o pavimento da nossa mente, dando-lhe parcos alicerces. Daqui se obtém que, qualquer homem à procura de um mísero entendimento empírico das coisas, terá de sofrer. A felicidade faz-nos pular, mas não avançar. Poderá parecer frio e cru dizê-lo, porém só posso acreditar, confiando na plenitude da razão, que não existe homem algum que se considere feliz e que possa absorver um conhecimento profundo do real.
Não pode haver homem que pule e avance.
O que fazer? Pular? Avançar?
Não mo perguntem senão terei de retorquir: talvez ficar.
E fico-me.


O Senhor Indefinido

fs

1 comentário:

Graça Pires disse...

Ao ler este belíssimo texto lembrei-me de um pequeno verso da Fiama que sei de cor "guardado no silêncio mais espesso o tempo faz e desfaz a vida"...
Um abraço.