5.7.08

Texto indefinido #1


Escrevo porque não me consigo definir. É nas palavras sussurradas para a minha mão que procuro algo que, sozinha, a razão não consegue. Daí escrever: dar um suporte físico à razão, dar-lhe um corpo membrado que, com o tempo, poderá levá-la a sítios até então inimagináveis para mim.
Passo, pois, a acomodar todas estas pequenas reflexões, devaneios, ironias, contradições, paradoxos, ilusões, alegrias, questões num sítio onde se juntarão. Talvez, com o tempo, e com o tempo nunca se sabe como é, a sua fusão desbrave todas as indefinições que me rodeiam. Cada um é uma labareda de um fogo imenso que me consome. Como uma estrela até gastar toda o seu combustível para depois morrer. O mais certo será eu falecer sem alguma vez vislumbrar a resposta que reúna tudo. A minha Teoria do Tudo. Qualquer que seja o rumo que a minha vida leve, jamais será outra coisa que não a escrita que me libertará. O trabalho, a família, o amor, os desencontros e encontros existenciais, nada fará sentido sem a caneta, tantas vezes trémula, na mão. Facilmente se constata, e não o receio de qualquer maneira, que, socialmente, estou condenado a observações cuidadas do comportamento humano sem ousar roçar no puro sentimento. Tenho a firme certeza que invariavelmente passarei os meus dias numa agonia existencial, uma total falta de realização pessoal (é uma pequena, mas inabalável, certeza que carrego). Contudo, terei a razão na retaguarda apoiando-me, traduzindo sentimentos vazios em realidades arrebatadoras. Cada homem é um fruto da imaginação, e, por sua vez, progenitor aguerrido de criação imaginativa. E é graças a esse ciclo que perduro.
O meu espírito é tão inquieto e instável que, num futuro próximo, é possível que não me reveja em qualquer destas palavras acima escritas. A culpa será da metamorfose que o tempo me provoca. Perdoe-se este ser estranho.

O primeiro texto indefinido.


textos carinhosamente oferecidos pelo Senhor Indefinido.

fs

3 comentários:

Anónimo disse...

esta certeza tem um peso excessivo e preocupante. escrevê-la assim dá-lhe um rigor que parece travar a hipótese de felicidade. é triste...

isabel mendes ferreira disse...

texto que levo para reler....durante este longo tempo.



beijo.

Mar Arável disse...

Se tem tanta certeza

talvez possa mudar

até descubrir fortes convicções