24.4.08

Promiscuidade


Ela,


Promiscuidade arcaica encosta aquela mulher à parede. O corpo nu e frágil apalpando às cegas as rugas da tinta de plástico, a carpete sedosa e fria acariciando-lhe os pés. Chamar anjo a tal ser mais não seria do que verdade. Concomitante com o papel de humano é o papel de anjo. Não há adornos. Pele morena, herança das comadres do café importado do Brasil. A cara leve, os olhos verdes felinos, o nariz empinado, o pescoço hirto pedindo uma mordidela nas carótidas, os seios destacados, o umbigo curto, a sagrada basílica acolhedora iniciando as pernas longas, os pés pequenos o necessário. Asas não lhe servem quando o sopro dos machos de pronto a conduzem a bom porto. Por apurar está o papel do diabo nesta criação, se a deus a podemos atribuir.


Ele,


O homem presente na sala mira a gazela indefesa, qual tarântula desorientada em caixa de papel. Sabe onde quer ir: confessar-se na sagrada basílica acolhedora. Consciência tranquila pois sabe que será bem-vindo. Note-se que os lábios do anjo, gazela aos olhos do homem, não foram descritos. Porque são dele e é neles que mergulha procurando novos impérios. Perfeita comunhão humana. Já foi dito outrora, não custa relembrar, deus é bom mas o diabo também não é mau.








F.S.

1 comentário:

Anónimo disse...

este texto é tão bonito e nada tem do título. gostei do aroma do café!

e dos pés pequenos o necessário :)

beijinho