6.7.10

Uma infância vista de cima (14 de 20)

que olhar é o meu que só quer o teu?

ao todo vi as pontes do regresso
onde ficámos presos num limbo,
lembro-me dos lancis nas estradas,
nos carros em vaivém pelas estepes,
o bosque onde nos perdemos
- lembras-te dos horizontes esfumados? -
roubei-te a pele
levaste-me os olhos
- passei a ver melhor-
acendi uma vela pela tua rebeldia
para corremos agora em direcções opostas.

temos um fio que serviu de telefone,
cartas que escrevemos em frente aos espelhos.
fiz de ti selo e destinatário
nos dedos pintámos palavras repetidas.

quisemos da vida tanta poesia,
andamos sôfregos às voltas na prosa,
a nossa rua não mais se repetiu.

que olhar é o meu,
o olhar,
que só quer o teu?

{se usar as mãos como binóculos
tenho a certeza que te vejo o coração}

2 comentários:

CS disse...

Lindisso como sempre.

Beijinho da tua mana

Graça Pires disse...

"que olhar é o meu,
o olhar,
que só quer o teu?"
Gostei muito do poema. Beijos.