3.5.09

Três escritos Queimados e outras quinquilharias (1)

l

Haverá um dia em que eu morra sem conhecer os sulcos do teu corpo
Ou um dia polvilhado de lamúrias pedindo sorrisos
Em que todos as gincanas, por mais profundas e esquivas
Me escondam os rodeios dos teus medos.
Será nos dias que se aproximam, em serenatas surdas e insufladas
das maiores das concordâncias ténues, que eu saberei que haverá um dia
em que eu morra sem conhecer os sulcos do teu corpo
Vestirás a capa sombria que nunca me apagará debaixo da luz
Que carregamos em separado. E os holofotes içados em gruas
Levemente concordam na injúria de nos levar o tempo.
Na claustrofobia das salas onde repousam esqueletos vivos
Falta-me a necessária descrição dos teus carpos pousados sobre os meus ombros
(escafóide, semilunar, piramidal, pisiforme,
trapézio, trapezóide, grande osso, unciforme)
Cabe em nós a maior das hecatombes
Haverá um dia em que deixe de escrever tudo aquilo que não querias
E na impossibilidade de acabar este poema
Resta-me chegar ao último verso,
Fechar a porta entreaberta em surdina
E colocar-lhe um

Fim.




fs

2 comentários:

Graça Pires disse...

Haverá um dia em que o corpo será um rio de palavras para percorrer sulco a sulco. Um belo texto. Beijos.

isabel mendes ferreira disse...

cabe em mim a admiração.




que reitero.