24.1.09

Texto indefinido #3


Ouvem-se grilos lá fora

Ultimamente adormeço muito a custo, fico pairando entre realidades tão subjectivas que dou comigo a pensar o quanto sou subjectivo e qualquer avaliação de mim mesmo é tão subjectiva na mesma medida. Meu corpo é alugado pois necessito de suporte físico que sustente a razão. E é à noite, como ferros incandescentes, que a razão intromete-se-me. Não se pode chamar insónia àquilo que me perpassa. Não durmo porque não consigo mas porque tenho de pensar, tanto para desbravar, tantos segredos, suspiros, sustos aguardando que a racionalização desses mesmos estados lhes dê vida. Por isso, eis-me sentado na cama perscrutando o vazio.
(Entristece-me as pessoas que me tomam por apático com ar soturno. Mal delas que não sentem as euforias, as frustrações, todo o caleidoscópio de vidas que me assola)
As noites esticam-se e não vislumbro ponto de ruptura. Infortúnio de quem dorme e perde os sonhos da realidade, de todas aquelas cores que os nossos olhos nos oferecem.
(Devaneios, por favor, não me abandonem, não deixem os sonhos amputarem-me)
Ouvem-se grilos lá fora.
A noite vai longa. Não posso dormir. Há tanto para pensar.


O Senhor Indefinido


fs

11.1.09

Apelo ao exílio

É altura de rasgar o que se ganhou,

Emoldurar o que se perdeu,

Ir roubar a quem nos deu

O sonho e o manipulou.

Conquistar o corpo desmembrado

Torná-lo uno ao cosê-lo

Animando e revestindo de pêlo

O outrora ser equilibrado.

Que cada indivíduo é uma pedra no charco

E as ondas emitidas o reflexo

Das acções e tempo sem nexo

De um trono sem arco.

Começar a revolução pessoal:

Restringir o coração

Para a sua influência não ultrapassar o chão

E nos deixar simples animal.



Nada mais nos resta senão exilar o coração.



fs