tag:blogger.com,1999:blog-23384004672854922024-03-06T20:03:49.537+00:00esquissosprimeiros traços de uma obra; esboço; rascunhofábio videira santoshttp://www.blogger.com/profile/16126039865948123482noreply@blogger.comBlogger113125tag:blogger.com,1999:blog-2338400467285492.post-73499132768263880512010-08-27T20:00:00.001+01:002010-08-27T20:00:03.540+01:00O ciclo do ciclo do ciclo<div align="justify">No fecho dos ciclos, há o ciclo de acabar, para este ciclo de terminação, às voltas, rodopiar sobre nós, enquanto nós, às voltas, comemoramos o ciclo da iniciação. Enquanto houver novas <a href="http://homem-expedicao.blogspot.com/"><span style="color:#ff6600;">expedições</span></a>.<br /><br /><br /><br /><strong><span id="SPELLING_ERROR_0" class="blsp-spelling-error">fvs</span></strong></div>fábio videira santoshttp://www.blogger.com/profile/16126039865948123482noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2338400467285492.post-66710477370411122622010-08-20T15:15:00.000+01:002010-08-20T15:15:00.945+01:00Texto indefinido #9<div align="justify">(explicação frágil de um último devaneio)<br /><br />Às vezes penso por que nunca me deixo cair. Da altura deste muro, a transbordar do verde musgo de perfume heterogéneo, estaco e reflicto. Caio, muitas vezes, sem me deixar cair. Olho o empedrado irregular por baixo dos meus pés e, palavra de honra, que não sei por que não me deixo cair. Naquele horizonte longínquo a pingar do céu, uma cascata ténue de luz a abraçar-me, e, num aconchego trepidante, prendem-se-me as órbitas pasmadas naquele fundo eloquente. Coloco todas as esperanças, mesmo as mais apáticas, numa fusão de mãos secas pelo Inverno, em dedos tortos, em estalidos de ossos deslocados, em segredos depositados nas rajadas de vento, num acordar de vozes<br />- Deixo-me cair?<br />Vozes essas que se entranham, semelhantes a nódoas persistentes nos ouvidos. E julgo-me louco, ignoro que me desmembro em migalhas de um bolo maior<br />- Por mim, sim.<br />E logo na fronteira da pele sinto uma casa com vários alicerces, uma melodia de vários tons, uma cara com várias faces, inúmeras religiões para o mesmo fim, todos os saberes coabitando<br />(a verdade é que às vezes escrevo e nem me apercebo porquê)<br />E continuo a persistir na realização como meio de não-realização, talvez como morrer antes de cortar a meta, uma infeliz apneia a sorrir para a morte. Debitar palavras – no fundo, nasci para qualquer coisa próxima do acto de escrever, juntar palavras, deixar pistas para que outros me venham coser, um pleno abandono das peças de um quadro que tão cedo não se completará, certamente assinado, mas sem a harmonia humana: um traço mal calculado, uma cor por utilizar. E tudo isto repito, repito, repito; somente a exaustão de um tema me permite roçar no patamar de uma perfeição débil<br />- Por mim, não.<br />Quem sabe se a solução não passa por me atirar ao empedrado, embater com o peso da consciência na rocha dura, o frio do chão no calor da minha pele, deixando-me fluir como que por osmose para a base da terra. Amedronto-me, contudo, nestas alturas em que a coragem me deveria assolar pois a minha queda seria a desgraça de todos os meus fragmentos, das minhas várias faces, dos vários alicerces da casa, dos pequenos fios que me unem os membros. Na falta de melhor e astuta resposta repito-me e, ao fazê-lo, aperfeiçoo-me. Por isso me repito, por isso me repito, por isso me repito, por isso. E, afinal, deixo-me cair. </div><div align="justify"></div><div align="justify">E morro, como tantos, quase perfeito.<br /><br /><br /><br /><br /><em>O Senhor Indefinido</em></div>fábio videira santoshttp://www.blogger.com/profile/16126039865948123482noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2338400467285492.post-23926000346466196842010-08-14T20:00:00.001+01:002010-08-14T20:00:01.570+01:00Uma infância vista de cima (20 de 20)<div align="left"><em>{a partir de agora o mundo<br />talvez não seja mais das crianças}</em><br /><br />o adulto<br />é a criança vestida<br />de capa negra.<br /><br />a criança<br />é o adulto despido<br />só com a pele<br />de tons garridos.<br /><br />a criança não o sabe<br />não lhe dêem a capa negra.<br /><br /></div>fábio videira santoshttp://www.blogger.com/profile/16126039865948123482noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2338400467285492.post-28458441035369311292010-08-07T20:00:00.002+01:002010-08-07T20:00:00.863+01:00Uma infância vista de cima (19 de 20)<div align="left"><em>{é a melodia da criança infinita}</em><br /><br />luz de luz<br />ao longe ao longe<br />para onde vamos?<br />quero saber hoje.<br /><br />ficar ficar<br />partir partir<br />no raiar do dia<br />como decidir?<br /><br />para onde vamos?<br />- algures num lugar que será amanhã.<br />sabes apontá-lo no mapa?<br />- é na fronteira do lugar que tem sido ontem.<br /><br /><em>{saltei do sino da capela para cair no meio da procissão}</em> </div>fábio videira santoshttp://www.blogger.com/profile/16126039865948123482noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2338400467285492.post-54958905574555970732010-07-30T20:00:00.001+01:002010-07-30T20:00:02.595+01:00Uma infância vista de cima (18 de 20)<div align="left"><em>{em criaturas de palmo e meio de vida<br />é difícil esquecer a textura das mãos enrugadas}</em><br /><br />estava um jarro de flores fúnebres<br />por cima do napperon da mesa da sala<br />uma criança não pedia explicações para a morte<br />nem para o conteúdo triste dos funerais<br />e nesse dia só me lembro de não ouvir o avô.<br /><br />reunida em volta da sala,<br />estava a família em santo sepulcro,<br />entre alguns suspiros e comoção<br />eu permanecia rastilho apagado,<br />apático aos olhares consternados,<br />só não aparecia a figura do avô.<br /><br />até que ao fim da tarde<br />explodi em choradeira.<br />é que era a habitual hora<br />de passear pela aldeia<br />de mão dada com o avô.<br /><br /></div>fábio videira santoshttp://www.blogger.com/profile/16126039865948123482noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2338400467285492.post-91230493625142842902010-07-24T20:00:00.002+01:002010-07-24T20:00:01.154+01:00Uma infância vista de cima (17 de 20)<div align="left"><em>{é a história do meio caminho para o Nautilus<br />nas cinco mil léguas imaginativas}<br /></em><br />enquanto escorregava pela superfície do mercado<br />não tencionava encontrar-me com a dúvida<br />de zarpar para a noite ao meio-dia<br />e obrigado a organizar-me em tripulação<br />não mentirei mais do que já fui<br />talvez porque elas,<br />as cores,<br />vêm de rajada tirar-nos o tapete dos pés<br />sondar-nos o limite exterior da pele<br />e quem sabe enriquecer-nos de membros<br />a meio passo da exploração<br />sabendo que elas,<br />as cores,<br />espreitam-nos mais do que nós as vemos<br />pelas frinchas das arcadas<br />e das ogivas plantadas debaixo dos rodapés<br />e por isso existe a felicidade restrita<br />porque elas,<br />as cores,<br />seleccionam escotilhas<br />e cometem insensatos sorteios<br />parecidos com experiências esdrúxulas<br />quanto muito para nos avivar o espírito<br />de que dentro delas,<br />as cores,<br />existem mais,<br />- há quem jure -<br />cores e cores e cores.<br /><br /></div>fábio videira santoshttp://www.blogger.com/profile/16126039865948123482noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2338400467285492.post-74212864289979710142010-07-18T20:00:00.000+01:002010-07-18T20:00:01.839+01:00Uma infância vista de cima (16 de 20)<div align="justify">do natural tornei-me cosmético<br />incubadoras & maçaricos<br />arrependi-me, voltei ao fundamental<br />e ainda procuro o cais e a ligação.<br /><br />tão pouco vamos dando de nós<br />àqueles que sempre nos irrigaram:<br />estranhos, uma espécie de avós<br />que em novos bipedismos voaram.<br /><br />se todo o mundo fosse premissa<br />lodo, triunfo, exortação<br />se em nós coubesse o manual da missa<br />ou não houvesse lugar para conclusão<br /><br /><em>{não quero da vida qualquer silogismo<br />mas até a tensão da fisga se bifurca}<br /><br /><br /></div></em>fábio videira santoshttp://www.blogger.com/profile/16126039865948123482noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2338400467285492.post-19847463992773842562010-07-12T20:00:00.001+01:002010-07-12T20:00:00.949+01:00Uma infância vista de cima (15 de 20)<div align="left">uma maçã na tua boca eu fui trincar,<br />chamei-te mãe chamaste-me doce,<br />do teu colo equacionei o mar,<br />nem que um mísero esboço fosse.<br /><br />nos dias antes de Édipo<br />demos ao deserto uma nova coloração,<br />de rubro o pintámos em traços frénicos<br />roubámos também às andorinhas a estação.<br /><br />como os líquenes na pedra húmida<br />crescemos os dois entre as lascas,<br />clamei logo por vinculação desmedida<br />a fim de hipotecarmos, eu bem sei,<br />a história das nossas fichas<br /><br /><em>{mãe, o mundo precisa do meu assobio para existir}<br /><br /><br /></div></em>fábio videira santoshttp://www.blogger.com/profile/16126039865948123482noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2338400467285492.post-65880692012783665382010-07-06T20:00:00.001+01:002010-07-06T20:00:00.983+01:00Uma infância vista de cima (14 de 20)<div align="justify">que olhar é o meu que só quer o teu?<br /><br />ao todo vi as pontes do regresso<br />onde ficámos presos num limbo,<br />lembro-me dos lancis nas estradas,<br />nos carros em vaivém pelas estepes,<br />o bosque onde nos perdemos<br />- lembras-te dos horizontes esfumados? -<br />roubei-te a pele<br />levaste-me os olhos<br />- passei a ver melhor-<br />acendi uma vela pela tua rebeldia<br />para corremos agora em direcções opostas.<br /><br />temos um fio que serviu de telefone,<br />cartas que escrevemos em frente aos espelhos.<br />fiz de ti selo e destinatário<br />nos dedos pintámos palavras repetidas.<br /><br />quisemos da vida tanta poesia,<br />andamos sôfregos às voltas na prosa,<br />a nossa rua não mais se repetiu.<br /><br />que olhar é o meu,<br />o olhar,<br />que só quer o teu?<br /><br /><em>{se usar as mãos como binóculos<br />tenho a certeza que te vejo o coração}</em></div>fábio videira santoshttp://www.blogger.com/profile/16126039865948123482noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2338400467285492.post-74166220671208812792010-06-30T21:00:00.001+01:002010-06-30T21:00:00.581+01:00Uma infância vista de cima (13 de 20)<div align="justify"><em>{o meu pai é o zé-ninguém<br />a minha mãe é a penumbra<br />o povo é assim<br />sempre gostou de nevoeiro}<br /></em><br />ninguém sabe o que me fez<br />tirar do corpo todos os âmagos<br />entregá-los sem nenhum jeito<br />sem saber se era a minha vez.<br /><br />o país, tal como a aldeia,<br />é uma longa espera.<br /><br />ninguém sabe o que me fez<br />depositar nas concavidades das órbitas<br />os meus projectos excedentários<br />julgando conhecer todos os meandros.<br /><br />o país julga-se maior que a aldeia<br />são ambos tão pequenos .<br /><br />não sei mais do meu corpo<br />do que a luz na fechadura da porta<br />mas se há coisa boa na aldeia<br />é sermos no dia nómadas.<br /><br />ninguém sabe o que me fez.<br />nem tu, irmã,<br />nem eu.<br /><br /><em>{não temos hora para partir<br />não temos hora para voltar}<br /><br /><br /></div></em>fábio videira santoshttp://www.blogger.com/profile/16126039865948123482noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2338400467285492.post-66059581332027386782010-06-24T17:00:00.000+01:002010-06-24T17:00:03.339+01:00Uma infância vista de cima (12 de 20)<div align="justify"><em>{é um dos meus breves estudos}</em><br /><br />hesita sempre que te beijem.<br />o acto profundo do encontro dos lábios<br />envolve um fugaz alívio dos músculos,<br />acompanhado por curta perda de visão.<br />experimenta:<br />um lábio,<br />dois lábios,<br />encosto,<br />beijo,<br />se a vontade pedir,<br />um beijo,<br />e quem sabe, talvez mais um<br />beijo<br />e outro<br />beijo.<br /><br />age sempre na humildade<br />que um beijo roubado<br />é altar de igreja vandalizado.<br /><br />um lábio,<br />dois lábios,<br />é a altura<br />de experimentarmos<br />um,<br />quem sabe,<br />um,<br />um beijo.<br /><br /><br /><em>{melhor que a primeira comunhão<br />são os beijos estreitos<br />como laços e nós<br />a promoverem a nossa união}<br /></em></div>fábio videira santoshttp://www.blogger.com/profile/16126039865948123482noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2338400467285492.post-43876544886690272162010-06-18T21:00:00.001+01:002010-06-18T21:00:00.120+01:00Uma infância vista de cima (11 de 20)<em>{tenho por vezes as minhas birras,<br />finjo esquecer os nossos nomes}</em><br /><br />tudo bem diria o descuidado<br />que em _____ não visse<br />o retrato do parto<br />que todos percorremos.<br /><br />daí querer a raíz funda na terra<br />e educar-me à ideia de ser pai,<br />para escolher a mãe ditosa<br />ela que virá acomodar a vista<br />dos tempos longe de Peter Pan,<br />muitos mimos e aconchego de lés-a-lés.<br /><br />no céu da boca deixarei o eco<br />e nos humores o capricho<br />dessa solidão povoada.<br /><br /><em>{sem um nome para gritar<br />posso desenhar os teus olhos?}</em>fábio videira santoshttp://www.blogger.com/profile/16126039865948123482noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2338400467285492.post-79471142589313904122010-06-12T17:00:00.002+01:002010-06-12T17:00:02.524+01:00Uma infância vista de cima (10 de 20)<div align="justify">desejei uma confissão<br />que trouxesse à manhã<br />uma depuração desmedida<br />de prédios cheios de andaimes<br />em que eu subisse ao mais alto<br />para nos teus ombros repousar.<br />não me avisou o tempo<br />das vertigens castiças que carregas,<br />hoje imagino-te torre de babel<br />e cá de baixo atiro-te um beijo<br />que à tua altura não chegará.<br /><br /><em>{da primeira paixoneta fica<br />o medo de cair<br />de subir lá acima<br />e de não nos lembrarmos<br />como se voa}</em><br /><br /></div>fábio videira santoshttp://www.blogger.com/profile/16126039865948123482noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2338400467285492.post-10931736862746342622010-06-06T21:00:00.003+01:002010-06-06T21:00:00.406+01:00Uma infância vista de cima (9 de 20)<div align="justify">o avô não sabe mas<br />vêm escritos nos dias que já foram<br />o meu nome e o seu em escarlate,<br />nos rosários e terços tantas contas<br />dos momentos que faltam pintá-lo.<br /><br />à mesa faço as vezes de bobo da corte<br />aguardando mistérios e malabarismos,<br />enquanto houver velhos para apregoar<br />o disseminar da tradição da família<br />algumas vozes em fundos jazigos<br />não vão deixar de ladrar.<br /><br />tal e qual as concertinas e bebedeiras<br />do bisavô de perna coxa<br />que não serviram para manchar<br />a genealogia dos pés-descalços.<br /><br />por isso lhe digo, avô,<br />que em todos os lugares me perco<br />e à sua figura inevitavelmente me vergo<br />exumando as traquinices que outrora sepultei,<br />erigindo-lhe e admirando os pelourinhos,<br />eles hão-de percorrer os trilhos da nossa aldeia<br /><br /><em>{dizia o senhor da paróquia<br />que podemos esperar<br />dos avós os teimosos vocábulos<br />de nós as habituais manias}</em><br /></div>fábio videira santoshttp://www.blogger.com/profile/16126039865948123482noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2338400467285492.post-73814028811975147392010-05-28T21:00:00.002+01:002010-05-29T12:42:54.547+01:00Uma infância vista de cima (8 de 20)<div align="justify"><em>{da geografia das palavras<br />um meio para podermos estar<br />nas casas das árvores}<br /></em><br />com compassos, esquadros e réguas<br />são supostos círculos, ângulos e dimensões,<br />na primária quanto muito aprendo a estimar primaveras.<br /><br />recitamos poetas com colarinho,<br />os olhos quase fechados de fado,<br />a professora pede melhor entoação,<br />espírito, cerimónia e dedicação,<br />mas na brincadeira da fisga<br />não se treina a dicção.<br />e depois vêm os rios e os seus afluentes<br />e se aos números há tempo de chegar<br />não nos chegam os dedos e os cochichos,<br />na multiplicação vem logo a cana espreitar.<br /><br />nós esticados a olhar para o mapa do Império<br />a ver Portugal em toda a largura do planisfério<br />e tão preocupados estamos<br />ó se estamos<br />com os sapos deixados a coaxar<br />nas duas margens do nosso rio.<br /><br /><br /></div>fábio videira santoshttp://www.blogger.com/profile/16126039865948123482noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2338400467285492.post-26495969759079633602010-05-25T19:34:00.003+01:002010-08-14T17:15:20.139+01:00Texto indefinido #8<div align="justify">Espreitei-me mais uma vez ao espelho e voltei a ver reflectida uma multidão onde eu não me encontrava. E desta vez sorri sozinho por ver reflectidas as bifurcações de tantos trajectos na minha mente. É que até aos quinze anos vivi encantado com o espectáculo do mundo e agora vivo deslumbrado comigo.<br />Todas as novas maravilhas, mesmo aquelas que não passem da cepa torta, têm os meus dedos e carimbos.<br /><br /><br /><br /><em>O Senhor Indefinido</em></div>fábio videira santoshttp://www.blogger.com/profile/16126039865948123482noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2338400467285492.post-44422581787899907602010-05-21T17:00:00.006+01:002010-05-21T17:00:05.185+01:00Uma infância vista de cima (7 de 20)<div align="left"><em>{na rua onde nasci não há morte<br />e as pessoas vão aparecendo}</em><br /><br />deste lado da rua<br />sou eu e mais uns poucos<br />que damos vivas à existência.<br />do outro lado alvitram<br />os castigadores da crua banalidade,<br />dos pudores escondidos<br />em castiçais de chama pendente. <img class="gl_align_left" border="0" alt="Alinhar à esquerda" src="http://www.blogger.com/img/blank.gif" /><br />e refilam<br />por não considerarem a existência<br />como o todo em si.<br />ao que eu me rio,<br />deste lado da rua,<br />dando vivas à existência,<br />dando vivas a mim.<br /><br />percorro, então, os caminhos<br />para deixar pegadas<br />fósseis do meu peso na terra<br />que é minha<br />porque a sinto<br />no prolongamento dos dedos<br /><br />contrai-se todo o espaço<br />à imponência de um fémur<br />e segue o meu corpo<br />que começa n' aorta<br />acaba onde me sonho<br />e grito<br />dando vivas à existência,<br />dando vivas a mim.<br /><br /><em>{o mundo é que se vai esquecendo de algumas delas}</em> </div>fábio videira santoshttp://www.blogger.com/profile/16126039865948123482noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2338400467285492.post-73313928939853722212010-05-14T17:00:00.006+01:002010-05-14T17:00:07.479+01:00Uma infância vista de cima (6 de 20)<div align="left"><em>{gosto de o chamar princípio da incerteza / incerteza do princípio}</em><br /><br />volta para os meus dedos,<br />coração de papel.<br /><br />nas escadas espiraladas<br />vejo-te em cima do meu rosto<br />com aquela luz de inverno<br />a incidir na cara fria.<br /><br />chamo-te<br />de voz espiralada<br />contra a maré vaga das negações<br />que não podem ser mencionadas.<br /><br />na confusão<br />das paredes que se fecham<br />existem fechaduras e arreios<br />uma abstinência do sangue que se perdeu.<br /><br />somos filhos perdidos<br />de um pai incógnito<br />e a base de toda a corda<br />que fingimos esticar<br />é o princípio da incerteza<br />de quem não pode enxergar.<br /><br />volta para casa<br />se a rua não é o teu lar<br />que oiço e vejo mendigos<br />que no espírito grandioso<br />são melhores do que eu </div>fábio videira santoshttp://www.blogger.com/profile/16126039865948123482noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2338400467285492.post-91880851404161477952010-05-07T17:00:00.009+01:002010-05-07T17:00:00.845+01:00Uma infância vista de cima (5 de 20)<div align="left"><em>{um dia comprimi as cordas de um violino<br />sem lhe conseguir calar a ternura}</em><br /><br />onde o vento sopra puro,<br />a música é o silêncio<br />de um compasso de notas lúcidas<br />bafejando íngremes colinas.<br />e nelas deitados lado a lado<br />a mirar o céu plácido,<br />somos tantos inquietos<br />abrindo caminho à unidade.<br />as estrelas sorriem à chegada do verão<br />e flutuam ao som dos acordes<br />porque a música não faria sentido<br />se flutuar não nos fizesse.<br />por isso deitados na colina,<br />onde o tempo nos abandona,<br />somos jovens eternos,<br />rebeldes e alheios à maturidade<br />de que o céu nunca cairá.<br />e a poesia faz-se<br />da observação inocente das estrelas.<br /><br />ora repara na tela azul lá em cima pincelada de luz.<br />mas eu não sei fazer qualquer poesia.<br />vou subir à colina e deitar-me.<br /><br /><em>{decidi comprimir as teclas de um piano<br />o resultado foi o mesmo}</em> </div>fábio videira santoshttp://www.blogger.com/profile/16126039865948123482noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2338400467285492.post-19351913854085896282010-04-30T17:00:00.010+01:002010-04-30T17:00:00.355+01:00Uma infância vista de cima (4 de 20)<div align="left"><em>{tatuei as minhas mãos nas paredes}<br /></em><br />no segundo piso perdido numa cadeira<br />abri o corpo ao ar profundo.<br />deixei-o estar em mim num doce instante<br />(da mesma maneira que se saboreia<br />o açúcar dos dedos)<br />e não senti o meu corpo colapsar.<br /><br />o ar no resto da cidade<br />inunda o cérebro de sujidade<br />nem tristeza nem felicidade<br />em tudo fracasso, letargia, capacidade.<br /><br />dói-me a máscara mentirosa<br />em que escondo azedos rebuçados<br />fora, todos os sorrisos e todos os pleonasmos<br />nesta falsa peça onde sou um actor fracassado.<br /><br /><em>{cansado fiquei a olhar para a parede<br />não me lembro da primeira cor das mãos}</em> </div>fábio videira santoshttp://www.blogger.com/profile/16126039865948123482noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2338400467285492.post-41051312774221690532010-04-25T21:00:00.001+01:002010-04-25T21:00:02.215+01:00<div align="center"><span style="font-size:180%;">duplo VI<br /></span><br /><br /><span style="color:#666666;"><span style="color:#666666;">contra a força do fugitivo</span><br /></span><strong>um escárnio de quem vê de fora<br /></strong><span style="color:#666666;">algemas de ardor e de medo<br /></span><strong>uma mancha num verso de elegia<br /></strong><span style="color:#999999;"><span style="color:#666666;">a família que vai sozinha para o degredo</span><br /></span><strong>na terra muitas valas de lamentação</strong><br /><span style="color:#666666;">não há perdão para este enredo</span><br /><strong>de tantos pés sem homens<br /></strong><span style="color:#999999;"><span style="color:#666666;">são estas as estrias dos mal-aventurados</span><br /></span><strong>em arcaicos lençóis freáticos</strong><br /><br /><span style="color:#666666;">fica a fraqueza dos que ficam</span> <strong>a guardar a entrada do fim<br /><br /><br /></strong></div><div align="left"><strong></strong></div><div align="center"><strong></div></strong>fábio videira santoshttp://www.blogger.com/profile/16126039865948123482noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2338400467285492.post-11449071069127561152010-04-20T17:00:00.008+01:002010-04-20T17:00:02.475+01:00Uma infância vista de cima (3 de 20)<div align="left"><em>{de qualquer jeito<br />a Terra do Nunca<br />deve crescer<br />nas nossas falanges}</em><br /><br />questiono-me<br />se todo o corpo é escravo da intenção<br />como uma voz autoritária no escuro<br />toda a estrutura de uma canção<br />que em volta de si ergue um muro.<br /><em></em><br />e se há o acaso de saber<br />se nenhum comportamento é aleatório<br />nem a sua realização o caos<br />se vivemos num silencioso dormitório<br />e embarcamos na realidade em naus.<br /><br /><em>{falange, falanginha, falangeta}</em> </div>fábio videira santoshttp://www.blogger.com/profile/16126039865948123482noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2338400467285492.post-76726671457585123332010-04-10T00:15:00.001+01:002010-04-10T00:26:10.624+01:00Uma infância vista de cima (2 de 20)<em>{tenho os bolsos tão cheios<br />como cheio é o tanque de casa<br />onde pirralhos saltamos de imaginação}</em><br /><br />por vezes penso se sou humano<br />alguma linha curva na estrada<br />uma estátua de amores bombardeada<br />um sol escondido todo o ano.<br /><br />argumento aos chefes cá de baixo<br />que o lugar onde me plantaram<br />é muito fundo e onde acabam<br />as <span id="SPELLING_ERROR_0" class="blsp-spelling-error">estórias</span> fechadas num cacho.<br /><br />se num engano vem a virtude<br />e aos poucos o lusco-fusco,<br />então sei de antemão as latitudes<br />dos corpos sepultados pelo <span id="SPELLING_ERROR_1" class="blsp-spelling-corrected">crepúsculo</span>.<br /><br /><em>{talvez a arte de esquecer a noite<br />com a pigmentação da alvorada<br />e não gostar de sair da cama}</em>fábio videira santoshttp://www.blogger.com/profile/16126039865948123482noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2338400467285492.post-69893417993430910622010-04-01T14:15:00.001+01:002010-04-01T17:23:08.961+01:00Uma infância vista de cima (1 de 20)<em>{este é um prefácio de espadachim<br />para as encruzilhadas da minha história}</em><br /><br />perguntou-se ao menino<br />uma conta de multiplicar<br />e o pobre garoto de ar felino<br />ripostou que só queria sonhar<br /><br />colocaram-no na mesa das inquisições<br />na tentativa de o corrigir<br />só que ele assobiava canções<br />de uma esperança que está para vir<br /><br />encostaram-no entre a espada e a parede<br />porque os sonhos não são para ser sonhados<br />mas o valente não se fez à rede<br />manteve-se hirto e de olhos esbugalhados<br /><br />fechado no escuro o mantiveram<br />na tentativa de lhe mudar a vontade<br />não sabiam o bem que lhe fizeram:<br />iluminar-se de razão para a posteridade<br /><br /><em>{ser um poema-criança,<br />não saber mais que assobiar}</em>fábio videira santoshttp://www.blogger.com/profile/16126039865948123482noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2338400467285492.post-84160538303262848292010-03-27T17:00:00.004+00:002010-03-29T22:11:43.835+01:00Uma infância vista de cima (0 de 20)<div align="justify">Poemas infantis. Poemas para tentar esquecer e um dia ruborizar a memória, escritos na primeira metade de 2009. Tentativas de restabelecer vinculações. Pouco mais que assobios. Garatujas & Rebuçados. Assim pediu a criança.</div>fábio videira santoshttp://www.blogger.com/profile/16126039865948123482noreply@blogger.com0