8.5.08

Caracóis negros


Em frente, em espaços de sorrisos,
os teus caracóis negros, estáticos.
Finges não sentir, finges não ser,
és um vidro opaco, apático,
ciente de um pôr-do-sol a repousar,
a repousar que não mais se levanta,
- Sigo para onde?
- Quando?
Os teus caracóis negros delatam
crimes ingénuos do ócio,
mentiras piedosas que deixaram de temer,
escumalhas girando em panfletos
traiçoeiros e no entanto impunes.
Não começas, não acabas,
por vezes ponto médio de um segmento de recta,
bochechas encarnadas a chamarem-me,
nós dois duas rectas paralelas.
Não me chamas, não me calas,
aceitas-me por difusão simples,
amparo-te a mão leve,
- É por aqui!
- É por ali!
Declive puro e igual,
inclinamo-nos um para o outro,
se me tocas tendo para o infinito.
És contradições e espinhos perfumados,
livro imponente em estante vazia.
Separam-nos duas mesas de madeira,
tão perto de não estar longe,
minha voz e vontade a beliscarem-te o ouvido:
- Dormes comigo esta noite?







F.S.

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