Porto, Praça dos leões, 7 de Outubro de 2008
Para os leões,
É a fonte mais imponente que os meus olhos jamais almejaram observar. O estatuto soturno dos leões, de boca fechada agora pois a água não jorra, as pessoas que estacam numa firmeza de amparo, espantam-se um pouco e retomam a pasmaceira dos dias.
Saí há minutos das aulas. O Instituto provoca em mim um orgulho desmesurado quando estou dentro das paredes frias de pedra e vejo o frenesim de batas brancas a circular, aprendendo a salvar o mundo do seu destino por quinze minutos que seja, evitando, sem remédio, o avanço da entropia nos corpos outrora jovens ou daqueles que, ainda frescos de vida, tropeçam nas artimanhas do tempo. Dentro dessas paredes sou um mastro de uma caravela da iniciação tão formosa que não é difícil insuflar-me de dignidade.
O meu mal é quando me vejo fora da claustrofobia benéfica dessas paredes. Foge-me a motivação e sinto-me um pano roto que necessita de remendos. E só a fonte dos leões me observa se eu cair.
Todos os santos dias, ao sair das aulas, deposito a minha alma na fonte e deixo-a de molho ao cuidado dos leões soturnos. E todos os dias um novo fôlego. As outras pessoas, pobres obreiras de uma colmeia sem fim, resignam-se e porventura passam ao lado da fonte sem os mimar. Talvez por isso estejam encardidos. Não é a oxidação natural que lhes faz isso, é o desleixo eterno de ninguém os admirar como eu nesta tarde ventosa de início de outubro.
(um dia escreverei só alegria para saberem que também fui feliz aos poucos)
Sinto-me mudo ao ver este quadro escultural. As vozes que não são minhas e que pairam sobre mim fogem tão sorrateiramente num abrir de boca de espanto. Só a caneta e o papel me ajudam a recordar o ponto de exclamação perene.
E a água que continua a não brotar em jactos felinos. Tenho de seguir, tomara que a vida fosse passada a observá-los. A maior dádiva que este Porto recente me ofereceu.
Vislumbro o sol que incide no peito bravo dos felinos valentes.
Dispo-me da minha alma.
Amanhã é sempre um bom dia para regressar.
Para os leões,
É a fonte mais imponente que os meus olhos jamais almejaram observar. O estatuto soturno dos leões, de boca fechada agora pois a água não jorra, as pessoas que estacam numa firmeza de amparo, espantam-se um pouco e retomam a pasmaceira dos dias.
Saí há minutos das aulas. O Instituto provoca em mim um orgulho desmesurado quando estou dentro das paredes frias de pedra e vejo o frenesim de batas brancas a circular, aprendendo a salvar o mundo do seu destino por quinze minutos que seja, evitando, sem remédio, o avanço da entropia nos corpos outrora jovens ou daqueles que, ainda frescos de vida, tropeçam nas artimanhas do tempo. Dentro dessas paredes sou um mastro de uma caravela da iniciação tão formosa que não é difícil insuflar-me de dignidade.
O meu mal é quando me vejo fora da claustrofobia benéfica dessas paredes. Foge-me a motivação e sinto-me um pano roto que necessita de remendos. E só a fonte dos leões me observa se eu cair.
Todos os santos dias, ao sair das aulas, deposito a minha alma na fonte e deixo-a de molho ao cuidado dos leões soturnos. E todos os dias um novo fôlego. As outras pessoas, pobres obreiras de uma colmeia sem fim, resignam-se e porventura passam ao lado da fonte sem os mimar. Talvez por isso estejam encardidos. Não é a oxidação natural que lhes faz isso, é o desleixo eterno de ninguém os admirar como eu nesta tarde ventosa de início de outubro.
(um dia escreverei só alegria para saberem que também fui feliz aos poucos)
Sinto-me mudo ao ver este quadro escultural. As vozes que não são minhas e que pairam sobre mim fogem tão sorrateiramente num abrir de boca de espanto. Só a caneta e o papel me ajudam a recordar o ponto de exclamação perene.
E a água que continua a não brotar em jactos felinos. Tenho de seguir, tomara que a vida fosse passada a observá-los. A maior dádiva que este Porto recente me ofereceu.
Vislumbro o sol que incide no peito bravo dos felinos valentes.
Dispo-me da minha alma.
Amanhã é sempre um bom dia para regressar.
fs