27.8.08

A melodia dos esquissos #4


The Doors - Touch me



Toca-me.
As promessas que fizemos com medo que o tempo emendasse as feridas que nos juntaram. Deixámos fluir a consciência livre que num alento subiu-nos às estrelas. Tu e eu somos as drogas viciantes que nos correm nas veias. Os beijos que soprámos deitados na relva, com medo que o céu caísse, e em tal caso, de bom grado o iríamos receber, da mesma maneira que me recebes e acolhes na tua sagrada basílica, quando o mar azul lá em cima banhado de luz nos espia. Recebes-me com um suspiro, e carregas a minha mão pelo teu corpo
- Vem,
E eu vou, acaricio-te a troco de nada, minha casa é a tua casa, meu corpo é o teu corpo. Pousas, então, a cabeça no meu coração acelerado, assombra-te que ele pare
- Amanhã quero ser tua de novo,
Observo-te como pintor que encontrou a inspiração, a musa secreta de um quadro genial. Afago-te no meu calor e deixo o tempo absorver-nos. Sussurro no ouvido onde te costumo morder
- Mas tu já és minha e eu sou teu,
Olhamo-nos.
E toco-te.

fs

7.8.08

Choro do violino


Enclausurado nas grades em que se fechou,
educou os tímpanos ao prazer do silêncio,
teme pois que a criatividade assassinou,
se criar não será o maior e inútil dispêndio.
Ao longe, distante das barras de metal verticais,
esbatem-se os holofotes em tons de cinzento,
procura e não acha pedras filosofais,
elixires aguardados ultimando o tormento.

Ouve-se um violino chorar.

Ao longe, em becos mudos e sem fim,
mães parindo no escuro o desgosto
de lançar para o mundo um destino ruim
de pobre rei morto, pobre rei posto.
Caladas fecham as pernas em suplício,
entrelaçam os dedos em volta do peito,
ignoram a profundidade do precipício
onde tudo cai depois do mal estar feito.

Ouve-se um violino chorar.

Saltando a barricada feito sanguinário,
emerge das grades em protesto,
nas artérias da cidade circula precário,
pede pelo menos o respeito honesto.
Ninguém as suas ordens consegue acatar,
encolhidos na sua palidez humilhada.
Ao longe ouve-se um violino chorar,
são as mães arranhando a pele eriçada.


fs